Às vezes é divertido soltar
umas teorias com incríveis e elaboradas conspirações contra isso, a favor
daquilo. Damos asas à imaginação e nos divertimos, geralmente com um
pastelzinho e um refrigerante ou suco ou outra bebida de cunho social.
Acontece, porém, e cada vez mais, que a brincadeira toma conta de toda conversa
e ganha tons raivosos, assumindo ares de verdades absolutas, abrindo caminho
para manifestações cada vez mais radicais e mais distanciadas dos fatos, da
realidade.
Ninguém está aqui para conspirar
a favor do Corinthians e contra o Flamengo, ou a favor do Flamengo e contra o
Corinthians. Menos ainda a favor ou contra o Vasco da Gama ou quaisquer outros
clubes.
Pesquisas reproduzem a
realidade. Sim, não são perfeitas, obviamente, por isso mesmo há margens de
erro, mas retratam a realidade de forma boa o bastante para que decisões as
mais diferentes sejam tomadas.
Pesquisas com base em
amostras da população, são usadas em todo o mundo embasando as mais diferentes
decisões, desde alocação de verbas governamentais (isso ocorre no Brasil a
partir de trabalhos do IBGE) até sobre quanto pagar para uma empresa ver seu
nome estampado numa camisa de um time de futebol.
Porque a nossa percepção da
realidade é sempre muito limitada e subjetiva, e porque ela, a realidade, é
imensa, sofisticada e diversificada demais, somente com ferramentas como essas
podemos ter uma visão relativamente mais ordenada da mesma, permitindo-nos
decisões mais corretas ou menos incorretas, em todos os níveis e campos.
Vamos, então, ao post, que é
a parte final desse trabalho cujo objetivo foi dar uma visão do potencial de
consumo das torcidas de futebol do Brasil.
Potencial de Consumo das
Torcidas Brasileiras – Parte IV – Final
O Potencial de Consumo
Em sua apresentação dessa
parte final, a Pluri Consultoria destaca que o potencial de consumo depende de
três fatores principais:
1) Da renda do torcedor;
2) Da disposição para
consumir;
3) Da oportunidade de
consumo.
Tendo a renda estimada, como
vimos no post anterior (lembrando que ela foi estabelecida a partir dos dados
de renda individual do IBGE), é preciso definir quanto desta renda o torcedor
está disposto a destinar a produtos e serviços direta ou indiretamente
relacionados ao seu clube. Aqui, mais uma vez, contamos com a providencial
ajuda do IBGE, que em suas pesquisas mensura o quanto da renda do brasileiro se
destina a cada grupo de gastos (segmentado por região), permitindo melhor
qualificar o percentual da renda dos torcedores que se destina ao consumo de
produtos e serviços relacionados aos clubes de futebol.
Outra
variável fundamental, como já foi dito nesse trabalho e de acordo com a
metodologia empregada, é a localização geográfica do torcedor, que
tem a ver diretamente com a oportunidade de consumo. Portanto, quanto mais
próximo do clube estiver o torcedor, em sua função consumidor, maior será a sua
disposição ao consumo.
Outro ponto importante a ser
destacado é que este potencial de consumo está disponível não apenas para os
clubes (na verdade eles ficam com a menor parte), mas para todos os envolvidos
no universo relacionado, como empresas patrocinadoras, fornecedores de material
esportivo, varejo esportivo ligado a clubes, empresas fabricantes de produtos
licenciados, empresas de mídia envolvidas em transmissões esportivas, etc.
Como podemos ver na tabela
acima, o Potencial de Consumo total dos clubes brasileiros, chega hoje a 1,5
bilhão de reais por mês, o que representa cerca de 1,2% da renda dos
torcedores.
Graças ao seu mix de
distribuição geográfica e tamanho, o Corinthians é o clube que lidera esse
item, com um potencial estimado em 450 milhões de reais mensais,
valor bem acima do segundo e terceiro colocados, praticamente empatados: São
Paulo e Flamengo, com 289 e 288 milhões, respectivamente.
Os 14 maiores potenciais são
de clubes do Sul e Sudeste. Bahia e Sport, praticamente empatados, lideram a
relação dos demais clubes, com 21 milhões de reais mensais.
Vimos na primeira tabela que
Flamengo e Vasco, com 49% e 45% respectivamente, são os dois clubes
com a maior parcela de potencial de consumo oriunda de outros estados que não o
de origem. Nenhum outro clube atinge sequer a marca de 30% nesse ponto.
Observação do OCE: o que
hoje é limão, amanhã pode ser limonada. Há uma clara tendência de maior
crescimento da economia e renda da população nos estados com economias menos
desenvolvidas, fator que, a médio e longo prazo, será benéfico para pôr o
potencial de consumo desses dois clubes em um outro patamar.
Nessa última tabela, com a
renda per capita dos torcedores, podemos ver o peso que a distribuição
geográfica das torcidas representa para o potencial de consumo. O potencial de
consumo do torcedor vascaíno no estado do Rio de Janeiro que é de 24 reais mensais,
cai para pouco mais da metade quando somado ao potencial de consumo dos
torcedores dos demais estados.
Indo para o oposto, clubes
como Avaí e Figueirense, sem torcedores fora de seu estado de origem, que
apresenta excelente relação PIB/população, mantém seu potencial de consumo no
máximo, o que faz desses dois os clubes com maior potencial de consumo por
torcedor do Brasil.
Índice de Propensão ao
Consumo do Torcedor – IPCT
Para levar a cabo esse
trabalho de acordo, a Pluri criou esse índice, que vem a ser a combinação de
fatores geográficos e sócio-econômicos. Os fatores geográficos são a
localização do torcedor e sua distância em relação à sede do clube. Para os
analistas da empresa, quanto mais próximo estiver da sede, maior será a
propensão do torcedor a comprar produtos ligados ao clube. Os fatores
sócio-econômicos são, principalmente, sexo, idade e renda do torcedor,
individualmente.
Vemos um fator interessante:
sete dos oito melhores colocados têm o grosso de suas torcidas em cidades com
alto nível de desenvolvimento, excelentes IDH e economias de peso mais que
respeitável: Florianópolis, Curitiba e Campinas.
Nesse quesito, o Flamengo
acaba por ser o clube mais prejudicado em função de três fatores que se somam:
grande percentual da torcida fora do estado de origem, grande peso de
torcedores de estados com economias de menor porte e parte de seus torcedores
com perfil sócio-econômico de baixa renda (classes C, D e E – ver posts do
Olhar Crônico Esportivo na categoria Pesquisas – Tamanho de Torcidas). O fato
de ter a maior torcida do Brasil ameniza o peso desse índice, naturalmente.
Palmeiras e Vasco apresentam
excelentes perfis sócio-econômicos, mas a forte influência da parte da torcida
localizada em outros estados afeta o resultado final dos dois clubes.
Considerando a região Nordeste,
o Vitória apresenta a torcida com o melhor perfil sócio-econômico, ao passo que
Santa Cruz, Fortaleza e Ceará apresentam os mais baixos perfis nessa categoria.
Informações e análises como
essas que vimos nesses quatro posts, são usadas há bastante tempo pelas
empresas com interesse no futebol e também pelos clubes com departamentos de
marketing atentos à realidade e com visão de futuro.
A Pluri inovou em alguns
pontos e em outros colocou à disposição do mercado mais uma fonte de
informações. É importante termos em mente que decisões de mercado são sempre
tomadas com base no maior número de informações possível. Ou seja, nenhum
trabalho por si só representará toda a “verdade”, seja do mercado, seja do
perfil de uma torcida, seja do valor de uma camisa como veículo, ou mídia, para
uma marca.
O futebol brasileiro se
profissionaliza e cresce como oportunidade de negócios para as empresas. O
crescimento do volume e diversidade de informações a seu respeito, assim como a
aparição de novas empresas ligadas à produção dessas informações, são frutos
diretos das transformações por que passa o futebol brasileiro fora dos
gramados.
A intenção desse Olhar
Crônico Esportivo, desde seu início, foi e continua sendo, manter o leitor, o
torcedor, não só atualizado, mas também capacitado, dentro de nossas
limitações, a compreender essa realidade em transformação.
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