Em
um contexto de vacas magras para os poderosos Real Madrid e Barcelona (e com o
Manchester City discreto), coube ao pouco conhecido Zenit surpreender o mundo
no fechamento da janela do mercado europeu: sem pudor, o clube gastou R$ 270
milhões para levar Hulk e o belga Witsel, jogadores de segundo escalão no
continente. Só perdeu em investimentos para Chelsea e Paris Saint-Germain:
resultado da injeção milionária da gigantesca Gazprom, petroquímica russa que,
assim como suas irmãs estatais, financia um império esportivo que despreza a
crise e ameaça o reinado de países (endividados) como a Espanha e a Itália.
O
futebol russo virou um oásis gelado. Após o colapso da União Soviética, em
1991, muitos empresários lucraram fortunas, e o governo local montou empresas
poderosas. No começo da década passada, o país voltou os olhos ao futebol — e a
UEFA abriu os olhos para os bilionários: a entidade já investigou acusações de
lavagem de dinheiro, manipulação de resultados e envolvimento de grupos
mafiosos na administração dos clubes. Um caso simbólico é a chegada do grupo
MSI ao Corinthians, em 2005: o empresário Kia Joorabchian, agente de astros
como Tévez, é parceiro do oligarca Boris Berezovsky, que precisou fugir da Rússia
em uma briga política com o presidente Vladimir Putin.
— O
magnata nem sempre contrata o melhor jogador, o mais rentável. Clubes como o
Barcelona e o Manchester United possuem elencos melhores que City, PSG e Zenit
porque investem com a racionalidade de um negócio. O Zenit, se viesse ao
Brasil, conseguiria vários jogadores melhores que o Hulk pagando muito menos —
analisa Amir Somoggi, especialista em mercado do futebol.
Membro
do Bric (grupo econômico de países emergentes) com o Brasil, a Rússia hoje só
perde para os Estados Unidos em número de bilionários — e possui um IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano) inferior ao do Panamá, por exemplo. Mas investiu
quase o dobro do futebol espanhol em contratações no último mercado de verão. E
ainda sediará a Copa do Mundo de 2018 — cujas obras estão em situação mais
avançada que no Brasil.
Terra
do artilheiro Shevchenko, ídolo do Milan, a Ucrânia aproveita a maré financeira
da vizinha (e inimiga histórica) Rússia e, com a mesma estratégia de apoio
estatal e bilionário, virou um eldorado para os brasileiros — por enquanto, com
o domínio de dois clubes: o Dínamo de Kiev e o Shakhtar Donetsk, que planeja
contratar Dedé e ofereceu R$ 26 milhões pelo jogador.
O
Shakhtar é controlado pelo bilionário Rinat Akhmetov, dono de uma fortuna de R$
32 bilhões, segundo a revista "Forbes". Apaixonado por futebol, vive
de olho no Brasil: atualmente, há nove atletas do país no elenco, que já contou
com nomes como Elano e Jadson. O Dinamo de Kiev, por outro lado, detém mais
cinco brasileiros, e na última janela investiu cerca de R$ 100 milhões em
reforços — a Ucrânia, com a Polônia, sediou a Eurocopa em junho e sofreu com
atrasos na entrega das obras e problemas financeiros.
Investigação
Da
mesma forma, as equipes do país — e seus donos — são investigados pelos altos
gastos. Envolvido em política, Akhmetov — dono de uma empresa de investimentos
— é acusado pela imprensa ucraniana de fazer parte do crime organizado no país,
uma polêmica eterna na Rússia. Em 2008, um juiz espanhol encaminhou a
promotores alemães a denúncia de que Gennady Petrov, integrante da máfia local
"Tambov Gang", em São Petersburgo, manipulou o resultado de um jogo
entre o Zenit e o Bayern de Munique, pela Liga Europa. O jogo acabou em 4 a 0
para os russos.
Na
época, a Espanha prendeu Petrov e outros 60 russos no país — por fazer parte da
máfia. Entre os quais, Vitaly Izguilov, flagrado em grampo negociando a venda
de um atleta do Zenit. A Justiça espanhola investigou uma aliança entre os
mafiosos e o governo russo em contrabando e lavagem de dinheiro.
—
Quando estive na Ucrânia, ao sentar com o presidente de um clube, ele colocou
logo uma arma em cima da mesa. Alguns negociam assim, outros são educados. Lá,
é assim — revela um empresário brasileiro.
Investidor
pioneiro
Nos
últimos dez anos, nenhum homem gastou com futebol como o bilionário russo Roman
Abramovich, que possui quase R$ 40 bilhões e figura atualmente como o 68º mais
rico do mundo.
Desde
2003, quando adquiriu o Chelsea, Abramovich investiu R$ 2,7 bilhões no clube,
que vinha de longo jejum no futebol inglês. E, desde a chegada do magnata,
venceu a Premier League em 2005, 2006 e 2010 e conquistou a Liga dos Campeões
em maio passado.
Na
última janela, Abramovich pagou R$ 90 milhões pelo jovem brasileiro Oscar, que
atua no clube com Ramires e David Luiz. Só com o espanhol Fernando Torres, em
2011, o russo gastou R$ 190 milhões — fora os mimos que acumula, como iates,
mansões, jatos particulares e carros blindados de luxo.
Em
2005, o nome de Abramovich ganhou notoriedade no Brasil pelo envolvimento com o
oligarca Boris Berezovsky, ligado ao grupo MSI, que investiu no Corinthians. Os
dois, depois, viraram rivais em uma disputa judicial bilionária envolvendo a
empresa Sibneft, incorporada pela Gazprom (dona do Zenit). Amigo pessoal do
presidente Vladimir Putin, o empresário já investiu maciçamente no CSKA Moscou.
Fonte:
Lucas Calil - Jornal Extra
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