Olhando o mercado brasileiro
de publicidade e marketing, no qual vivi de 70 a 2010, e aí olhando para o
nosso futebol, penso que os clubes trabalham muito mal sua força, tanto no
sentido de não mostrarem ao mercado publicitário o que podem oferecer, como no
sentido de não ter profissionais qualificados mostrando isso.
Acredito que a abordagem de
uma grande empresa, dependente ou íntima do marketing, deve ser feita por
profissionais do mesmo tipo e nível dos que estão na empresa. Respeito muito as
pessoas que chegam à diretoria dos clubes, mas, francamente, elas não são do
ramo.
Um clube grande deve ter um
diretor de marketing remunerado, egresso do mercado de publicidade e marketing,
com ampla visão de mercados e mente aberta, já com algum nome, além, é claro,
de um currículo de peso. Um profissional que seja reconhecido pelos demais, nas
empresas, como um igual entre iguais.
Naturalmente, profissional
de tal quilate deverá estar atento ao mercado, sempre, procurando novas formas
de relacionamento entre o clube e outras empresas, criando e propondo ações de
marketing diferenciadas que agreguem valor e visibilidade às duas partes.
Entre os Top 10 do mundo
(ver o post anterior), a participação do Commercial – englobando marketing e
licensing – é de 33% sobre o total das receitas operacionais, ficando a TV com
41% e o matchday com 26%. Se pegarmos, porém, os times alemães, onde os
direitos de TV são menos elevados, o percentual do Commercial, em especial o
marketing, passa para 56% no Bayern e 45% no Schalke, considerando dois
exemplos e com os dados da temporada 2010/11. E isso não se dá com a horrível
poluição da camisa, como acontece hoje com os clubes brasileiros, mas sempre
com um patrocinador único, máster de fato, e com um grande conjunto de ações,
com diferentes empresas.
Acho até saudável um clube
recorrer a uma agência para a busca de patrocínio. É muito melhor do que deixar
tal tarefa em mãos incapazes, mas é, igualmente, um tremendo desperdício de
dinheiro. Uma comissão de 15% – que é a praxe do mercado publicitário – sobre
um patrocínio de 30 milhões significa 4,5 milhões de reais a menos na conta do
clube. Um profissional de alto nível, ganhando bem (pelo mercado publicitário e
não pelo mercado maluco e inflacionado do futebol) e ainda tendo o incentivo de
bônus por metas, custará uma parcela apenas desse valor, com a vantagem de
dedicar-se full time à entidade e gerar novos negócios.
Esse facilitário de
terceirizar determinadas ações, também chegou aos programas de sócio-torcedor.
É, para mim, impensável que um clube grande não consiga um mínimo de
organização e não tenha um mínimo de capacidade para tocar algo,
conceitualmente tão simples, como um programa de sócios. Ao terceirizar esses
programas, os clubes abrem mão de 30% da receita dos mesmos, no mínimo, e
deixam seu mais precioso patrimônio – os torcedores – fora de sua própria casa,
em mãos estranhas. Nada contra as empresas, novamente, mas simplesmente essa é
uma postura a favor dos clubes serem mais profissionais e cuidarem melhor de
suas próprias finanças.
Uma listagem de clientes,
tão fieis quanto apaixonados, vale ouro, ainda mais considerando o tamanho que
podem atingir as listas de torcedores/consumidores envolvidos num programa de
ST. Até porque, para ações promocionais diversas, não há necessidade do
torcedor estar associado de fato, basta ele ter se cadastrado e se tornado, a
partir de então, um consumidor em potencial dos mais diferentes produtos.
Tudo isso que está exposto
acima é muito simples, banal mesmo, e não há o menor segredo ou truque, basta
implementar. Dá até para o clube ganhar dinheiro com essas ações e programas
terceirizados, mas será sempre muito menos que o possível, menos ainda que o
desejável e muito menos, infinitamente menos que o necessário, para boa parte
de nossos grandes clubes.
Todavia, em meio a tantas
promessas bonitas, há um “pequeno” problema: a realidade de nossos clubes, em
especial, a triste e paroquial realidade política que toma conta de todos,
praticamente, onde cada diretoria é um pequeno feudo, um mundo à parte, onde só
pode cantar de galo o diretor e ninguém mais.
Essas áreas de atuação não
podem ficar sujeitas ao joguinho interesseiro e eleitoreiro de cartolas e seus
amigos. Profissionais capacitados, bem remunerados e de renome, precisam
trabalhar com independência e sem ingerências externas. Claro que devem prestar
contas de tudo que fazem, mas, preferencialmente, a uma só pessoa e ninguém
melhor que o próprio presidente do clube. Nada impede que se reportem a um
diretor da área, mas, nesse caso, o ideal é que esse diretor tenha canal direto
com a presidência, numa tentativa de ficar imune a pressões de outras áreas.
Tudo isso porque não temos a figura do CEO, que nasceu no Internacional, com
Aod Cunha, de curta passagem, infelizmente. Algo parecido, mas sem essa
figura-chave, está em execução no Santos do presidente Luiz Álvaro e eu
colegiado voluntário, onde as diversas áreas operacionais do clube serão,
algumas já estão sendo, tocadas por profissionais remunerados. Ao mesmo tempo,
o clube reduziu o número de diretores estatutários, algo politicamente muito
interessante.
Depois de todo o imbróglio
entre Flamengo e Traffic e Ronaldinho, passou a circular a notícia que a
agência estaria interessada em tocar o programa de sócio-torcedor do clube. Que
deveria ser gigantesco e uma grande fonte de receitas, mas continua como
“potencial a ser explorado”. E, pelo que sei, não por incapacidade de quem o
tocava, mas sim por conta dos eternos vai-e-vem políticos que caracterizam a
Gávea. Que pagou comissão para a agência de Ronaldo pelo contrato com a
Gillette. Novamente, nada contra essa ou qualquer agência, mas não me parece
razoável que o Flamengo e sua marca precisem ser apresentados e defendidos no
mercado por uma agência.
O mesmo, nesse caso, em
relação ao Palmeiras, cujo novo e bom patrocínio acabou passando, também, pela
intermediação de uma agência.
O São Paulo, nessa semana,
anunciou que Roberto Justus prestará consultoria ao clube na busca e negociação
por um novo patrocinador. Ainda não está definida como se dará sua
participação, mas ela pode ir além desse ponto. Dependendo da forma como será
feita e de quanto será a remuneração, se existir, essa relação pode ser
interessante, desde que represente um ganho em relação à simples terceirização
do serviço. Ainda no caso de Justus: o São Paulo pediu e ele, pelo clube,
conduziu a negociação do novo contrato de direitos de transmissão do Brasileiro
com a Rede Globo. Essa foi, sem dúvida, uma iniciativa inteligente da direção e
abriu o caminho para essa nova colaboração.
Atualização: (um trecho do
post original foi alterado em função dessa atualização) em rápida conversa
hoje, Rogê David, o novo diretor de marketing do São Paulo, empresário e
jovem, disse-me que Justus colaborará com a consultoria nessa e em outras
questões sem remuneração. Sem dúvida, ótimo para o clube. Justus é um
profissional de marketing por excelência, alguém que, mais do que abrir portas
(tarefa que não é necessária para nenhum dos grandes brasileiros, donos
de marcas fortíssimas para as quais as portas se abrem… ou deveriam abrir),
terá uma conversa de profissional para profissional, aquilo a que me referi há
pouco como “um igual entre iguais”. A conversa com Rogê, não concluída,
ainda, tem sido interessante e, oportunamente, será transformada em post.
É bom lembrar que nessa
mesma gestão presidencial, mas com outras pessoas à frente do marketing, o
clube, praticamente, abriu mão do patrocínio da LG, no que acabou se revelando
um erro estratégico – algo que esse OCE alertou, na época – graças a sonhos e bravatas
de dirigentes que alardearam que iriam fechar patrocínios de 40 e até de 50
milhões. Não acontece.
Dirigentes falam o que
querem e o mercado paga o que acredita que vale.
Nesse embate, vence o
mercado, sempre, não por ser mais forte, mas, simplesmente, por usar a razão e
a calculadora na hora de fazer negócios e ter à disposição, sempre, outras
alternativas tão ou mais atraentes e por custo igual ou inferior.
O mercado não é inimigo e
não é aproveitador, como costuma ser visto por muitos. É uma grande e
fundamental fonte de recursos, mas precisa ser conhecido e precisa ser
trabalhado de forma e correta e profissional. É isso, simples assim, que os
clubes de futebol precisam aprender e entender.
FONTE: Emerson Gonçalves/Olhar
crônico esportivo/Globoesporte.com
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