“Projeto Olímpico”. A combinação dessas duas
palavras parece mágica para o mercado de esporte no Brasil. Desde que o Rio foi
eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016, passou a ser uma necessidade para as
empresas pensar em ter algum projeto para o esporte. E isso mudou
substancialmente a cara dos investimentos nas confederações.
Antes, apenas com a Copa
assegurada no país, a cabeça das empresas estava no futebol. Os anos de 2008 e
2009 foram de grande fartura, principalmente para a CBF, que conseguiu angariar
Itaú, Gillette, Volks e Extra para o patrocínio da instituição. Nos clubes, a
venda de diversas propriedades nas camisas tornou-se uma realidade até mesmo
para os times de maior torcida.
Mas aí veio a eleição, em
outubro de 2009, do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. E agora quem vive um
período abastado são as confederações. Até então, as entidades tinham como
fonte de receita, basicamente, a esfera pública. Seja por meio dos aportes
pouco técnicos e muito políticos das empresas estatais, seja pela Lei Piva, que
destina os recursos das loterias para o COB que, por sua vez, repassa para as
instituições filiadas.
Hoje, o cenário tem se
alterado. Desde 2010, uma enxurrada de novos patrocinadores começou a tomar
conta das confederações que fazem parte do programa dos Jogos Olímpicos. Com
destacada atuação do Bradesco, a fila agora é puxada pelas empresas privadas,
que tomam a decisão baseada muito mais em detalhes técnicos do que políticos.
É o oásis olímpico invadindo
as confederações. O problema, porém, é o cenário que fica para além dos Jogos
no Rio de Janeiro. Boa parte desse apoio às confederações tem origem na Lei de
Incentivo ao Esporte. Outra parte tem como meta clara um prazo de validade, que
é o evento de 2016.
Como o esporte pode
sobreviver para além disso? A pergunta deveria estar hoje na cabeça das
confederações. Elas precisam, claramente, se preparar para não viver apenas
cinco ou seis anos de prestígio com o mercado. Esssa necessidade fica clara
quando analisamos a origem dos recursos das entidades.
A CBF é, de longe, a
instituição com mais patrocinadores. O futebol, com a popularidade que tem,
consegue atrair recursos sem esforço. Depois disso, a lista conta com a
Confederação Brasileira de Judô e a Confederação Brasileira de Rugby. São as
duas que possuem o maior número de patrocinadores e a menor dependência de
verba do setor público dentro de seu orçamento.
Não é difícil perceber que a
gestão de marketing dessas entidades tem feito a diferença. O judô, desde 2007,
vem conseguindo atrair parceiros do setor privado, modificando a cara e os
resultados do esporte. No caso do rúgbi, a mudança veio especialmente com a
volta do esporte para o programa olímpico e com a bem-sucedida campanha de
mídia da Topper. Ao brincar com a situação da modalidade no Brasil (o “isso
ainda vai ser grande”), conseguiu cativar as pessoas. Mérito dos gestores, que
souberam aproveitar a aceitação do público para vender realmente o projeto de
“ser grande” para as marcas.
O problema é saber o que
será depois de 2016 para as outras confederações. Até mesmo os populares vôlei
e basquete hoje dependem muito do apoio estatal para ter receita. O futuro do
esporte no Brasil para além de 2016 depende, muito, de como os gestores
enxergam suas modalidades hoje. Se não souberem explicar o motivo de estar mais
fácil conseguir patrocínio, com certeza o oásis passa a ser uma miragem assim
que os Jogos acabarem.
Fonte: Erich Beting
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