O mundo caiu para
Corinthians, Flamengo e Palmeiras no domingo, após as eliminações dos três
times dos seus respectivos campeonatos estaduais. A queda no torneio local fez
até o calmo ambiente corintiano transformar-se num mar de tormentas.
E a pergunta que fica é.
Para que servem os Estaduais? Se o time ganha, mídia e torcida levantam a
bandeira do “não fez mais que a obrigação”. Agora, quando perde, o mundo
desaba.
Existe hoje uma distorção
muito grande na organização do futebol no Brasil. Por um lado, prega-se uma
profissionalização extrema, mas por outro não se abandona o passado “amador” do
esporte no país.
Pelas dimensões territoriais
que temos, o futebol no Brasil se estruturou a partir dos Estaduais. Foi por
causa das rivalidades locais que o esporte cresceu, se fortaleceu e se
consolidou como o maior do Brasil.
Só que, hoje, a estruturação
do futebol no país não permite que tenhamos a figura dos Estaduais. Pelo menos
não para os clubes que estão no topo da pirâmide da bola.
Por questões políticas, hoje
temos um Estadual com 23 datas espremido em três meses. No calendário atual do
futebol, é uma aberração a temporada começar em ritmo tão arrasador. Já com
Copa Santander Libertadores e Copa Kia do Brasil em disputa, a média é de um
jogo a cada três dias logo na parte inicial da temporada. Prato feito para
arrebentar os atletas. Seja agora, seja em dezembro, quando é a reta final de
Brasileirão.
Para piorar, a partir
do momento que mídia e público tratam como “obrigação” vencer o Estadual, ele
se transforma num estorvo para o clube grande. O time precisa entrar com força
total, especialmente na reta decisiva, e com isso deixa para um segundo plano a
preparação para o Campeonato Brasileiro e até mesmo para a disputa da
Libertadores ou da Copa do Brasil.
Hoje, as competições
nacionais e internacionais são muito mais importantes para os clubes, em todos
os sentidos. São essas vitórias que geram mais “fama” para a equipe,
possibilita aumento no contrato de patrocínio, rende mais receita com
bilheteria e até mesmo faz o jogador de maior qualidade desejar jogar por
aquele time.
O Estadual faz parte de um
passado importante do futebol no país, mas é preciso olhar para a frente. Se
quisermos manter os principais atletas em atividade por aqui, é preciso
tratá-los bem, dar condições de enfrentar grandes adversários em grandes jogos,
criar um ambiente tão qualificado quanto lá de fora.
Mas, para isso, não basta
mudar a mentalidade dos dirigentes. Pelo contrário. Muitos são favoráveis a dar
mais descanso para os atletas e ter mais datas para realizar excursões, eventos
para patrocinadores, etc.
O maior ranço para a
manutenção de torneios deficitários e inchados vem da mídia, que promove os
Estaduais pela necessidade de aumentar ou manter a audiência, os cliques, as
vendas.
Em quase um mês “de folga”,
o Flamengo poderá mostrar quão interessante pode ser um mundo sem o Estadual.
Mais tempo de preparação da
equipe para o Nacional, realização de partidas amistosas Brasil a dentro
(excelente para divulgar e fortalecer a marca) e calma para trabalhar a cabeça
dos atletas são alguns dos ingredientes que podem dar um doce resultado para o
Fla no fim do ano.
Está claro que o futebol
como negócio dos dias de hoje não pode comportar mais os Estaduais. Pelo menos
não para os clubes que almejam muito mais do que serem o melhor de seu estado.
Se quisermos ter o melhor futebol do mundo dentro de campo, temos de deixar o
tradicionalismo de lado e trabalhar para melhorar a qualidade do espetáculo
para o torcedor.
Fonte: Erich Beting
Nenhum comentário:
Postar um comentário