Paris
como nunca se viu no futebol
PSG
aposta em 2013 mais forte para se transformar em potência europeia
RIO
- Um desafio de pretensões nada modestas. Fazer de um clube jovem, de 42 anos
incompletos, uma das principais equipes e marcas do futebol mundial, algo
inédito na França. Como? Com rios de dinheiro, que nascem no emirado do Qatar,
e, há quase um ano, desaguam em Paris. Centro mundial de cultura e lazer, berço
de movimentos que revolucionaram o pensamento ocidental, a cidade, seu charme
irresistível e símbolos como a Torre Eiffel, que o Paris Saint-Germain exibe no
escudo, todos são esteios do projeto liderado pelo brasileiro Leonardo.
Ao
fim da primeira temporada, pode-se dizer que o saldo é positivo, considerando
que imediatismo de resultados é prática nada convencional quando se misturam
ideias tão ambiciosas e esporte de alto nível. Mesmo se o limite do cheque
especial estiver longe de estourar. O PSG não matou a fome pelo título francês,
que não comemora há 18 anos. A glória coube ao Montpellier, cujo orçamento é
cinco vezes inferior ao do novo rico.
Implicâncias
políticas
Mas
o vice-campeonato e a transformação em curso foram celebrados em outras
frentes: com a vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões, a primeira
desde a edição 2004/05, e números superlativos em visibilidade, venda de
camisas e acessos ao site oficial. Jamais o time havia feito cada um de seus 19
jogos em casa na Ligue 1 com os 45 mil lugares do Parc des Princes ocupados.
—
Para quem vinha se afastando do topo até no cenário nacional, tudo isso é
novidade — afirma Leonardo, atual diretor esportivo e ex-jogador do clube em
1997. — Fomos competitivos na França. O próximo passo é a Europa. Ano que vem,
passaremos uma mensagem ainda mais forte.
O
PSG é um clube peculiar na França, onde, ao contrário de Inglaterra, Espanha,
Alemanha e Itália, nunca teve um time de projeção internacional, embora o
Olimpique de Marselha tenha sido campeão europeu em 1992/93. Desde sua
fundação, tem papel histórico e social com implicações políticas: o estádio, do
qual é concessionário, pertence à prefeitura de Paris, e o centro de
treinamento, o mesmo desde 1975, à de Saint Germain, uma realidade que
contrasta com o mundo do futebol competitivo e investimentos milionários no
qual quer se inserir. Durante anos, foi arrendado pelo Canal Plus, até ser
negociado com o fundo de investimentos imobiliários americano Capital Colony.
Este o vendeu ao atual proprietário, o Qatar Sports Investments (QSI), cujo
homem forte, Nasser Al-Khelaifi, também é diretor geral do Al Jazira Sports —
detentor dos direitos de transmissão das principais competições esportivas do
planeta — e, por tabela e conveniência, presidente do Paris Saint-Germain desde
outubro.Para transformar o clube numa potência esportiva, a diretoria é enxuta.
Abaixo de Al-Khelaifi, muçulmano praticante educado nas mesmas instituições
britânicas que a família real do emirado, e primeiro qatari ranqueado pela
Associação de Tenistas Profissionais (ATP), estão Leonardo e o diretor-geral
escolhido pelo brasileiro, Jean Claude Blanc, ex-presidente do Juventus e
ex-organizador da Volta da França e de Roland Garros.
As
aspirações do trio não permitem economia. Estão nos planos a construção de um
novo estádio — esta semana a Câmara de Paris rejeitou uma primeira proposta de
derrubar o Parc des Princes — e de um novo CT, que impulsione o trabalho nas
categorias de base.— Dançamos em todas as áreas para construir esse PSG do
futuro — explica Leonardo. — Nosso desafio é fazer uma gestão profissional e
montar uma grande equipe. Potencializar o peso que tem Paris e projetá-lo num
time de futebol.
Na
temporada passada, o PSG investiu 106 milhões de euros (R$ 276 milhões) em
contratações como o argentino Pastore, o uruguaio Lugano, o brasileiro
naturalizado italiano Thiago Motta, além de Maxwell (ex-Barcelona) e Alex
(ex-Chelsea), que se juntaram a Ceará e Nenê, a estrela da companhia. Para
comandá-los, Carlo Ancellotti. Na falta de faixas, o apetite promete ser ainda
maior no verão. O PSG, na definição de Leonardo, é hoje um clube comprador. Só
não aponta seus alvos, que um dia já foram Beckham, Tévez, Kaká e Alexandre
Pato. Caro para os padrões europeus, jogador brasileiro se tornou ao mesmo
tempo sonho e pesadelo de consumo. O Brasil, porém, nunca deixou de habitar os
pensamentos de Leonardo:
—
Dos últimos 21 anos, passei dois no Brasil. Minha vontade é realizar algo por
aí, chegar no Flamengo. Por enquanto, me satisfaço alimentando esse desejo. Um
dia sei que vai acontecer.
FONTE: O GLOBO / FÁBIO JUPPA
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