Clube
prioriza regularização de débitos de R$ 450 milhões com a União
Dívida
total pode chegar a R$ 600 milhões
Leonardo
Moura e Rafinha controlam bolas na ponta dos dedos durante o treino no Ninho do
Urubu: os dois estarão em campo contra o Olaria Márcio Alves / Márcio
Alves
RIO
- Para ordenar sua vida financeira, o Flamengo tenta tirar do caminho um
problema de quase meio bilhão de reais. Em campo, o time que neste sábado
enfrenta o Olaria, às 18h30m, em Volta Redonda, vem colhendo resultados. Só que
o faz num clube que ainda não consegue prever a entrada de recursos, a
incidência de penhoras e não é elegível para captar investimentos de estatais
ou via leis de incentivo. Tudo por não ter a Certidão Negativa de Débito (CND),
que virou prioridade do clube. Somente as dívidas públicas que impedem a
emissão do documento somam R$ 450 milhões. O total de débitos fiscais passa de
R$ 500 milhões.
A
auditoria da Ernst & Young está concluindo seu trabalho, que aponta para um
total que deve rondar R$ 600 milhões, entre dívidas públicas e privadas. Em
entendimentos com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) para
conseguir a CND, o Flamengo pagou, em 45 dias, cerca de R$ 25 milhões em
impostos. O objetivo é mostrar ao órgão que está disposto a cumprir seus
compromissos.
Nos
próximos dias, o Flamengo entregará uma proposta de acordo à Procuradoria.
Nela, fixa um valor mensal a ser pago, em troca da emissão da certidão. Para
dar sinais ao governo de que quer romper com a tradição de mau pagador, se
propõe a oferecer como garantias seus contratos de patrocínio e até o terreno
do CT do Ninho do Urubu.
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Não é só obter a Certidão Negativa de Débito. É obter e manter. Estamos
elaborando uma proposta dentro da realidade do clube, algo que possamos
cumprir. É uma proposta de longo prazo - explica Rodrigo Tostes,
vice-presidente de finanças do Flamengo.
Sem
controle
Regularizar
a situação fiscal e conseguir a certidão permitiria ao Flamengo fomentar os
esportes olímpicos com leis de incentivo. Hoje, as modalidades não são
sustentáveis. Além disso, interromperia a incidência das penhoras de valores
mais altos. Por fim, permitiria contratos com estatais. O patrocínio da Caixa
Econômica Federal, com valores próximos de R$ 35 milhões, é uma possibilidade
real que está na mesa, mas o Flamengo não é elegível para recebê-lo.
Os
esforços para ordenar a situação fiscal do clube retratam um histórico caos
administrativo. A primeira atitude da nova diretoria foi procurar a PGFN. Nas
primeiras reuniões, o órgão se disse sem condições de informar o montante da
dívida. O clube também não tinha controle sobre o que já fora pago e o que era
devido. Aos poucos, descobriu-se que o recolhimento de Imposto de Renda que
incide sobre salários, por exemplo, não acontecia há cinco anos. Há um ano, o
Flamengo deixara de quitar as parcelas de programas de refinanciamento de
dívidas como o Refis e a Timemania. Estava ameaçado de exclusão, o que faria,
imediatamente, incidir uma penhora de R$ 167 milhões, capaz de inviabilizar o
clube.
Para
“convencer” a PGFN de que o clube irá cumprir compromissos, a quitação de
impostos virou prioridade. Todas as parcelas atrasadas de Refis e Timemania
foram pagas, assim como outras dívidas fiscais em fase de execução. Além disso,
o clube tem exibido documentos comprovando o recolhimento de todos os impostos
neste ano. Ontem, foram pagos aos jogadores os dois meses de salários que
estavam em atraso. A questão dos direitos de imagem do grupo ainda não tem data
para ser paga. A dívida, dependendo dos jogadores, oscila entre três e quatro meses.
-
Até mesmo para conseguir um investidor privado, a Certidão Negativa de Débito
abriria portas. É uma chancela de que vale a pena investir no clube - diz
Tostes.
Dois
Montillos em impostos
A
diretoria costuma usar imagens para explicar a razão dos investimentos tímidos
no futebol, mostrando que a regularização fiscal virou prioridade. Por exemplo,
dirigentes comentam que os R$ 25 milhões pagos em impostos permitiriam ao clube
ter contratado “dois Montillos”. No entanto, seria impossível garantir que o
argentino receberia seus salários em dia.
Fonte:
O Globo