Há
quem diga que o trabalho de gestão de crises está muito longe de ser necessário
ao ambiente de profissionalização do esporte. O argumento é de que não há risco
financeiro envolvido no mundo esportivo ou que, se há, é insuficiente para que
seja instaurado um processo estruturado de gestão de crises em quaisquer
modalidades esportivas, seja para atletas, seja para clubes.
O
blog poderia elencar aqui dezenas de fatos ocorridos apenas no Brasil que eram
nitidamente casos de crises. Mas poucos serão mencionados, apenas para que se
refresque a memória e se lembre de situações ligadas ao esporte que, de forma
clara, poderiam ter atrapalhado a história de um clube ou a trajetória de
atletas: Queda de um pedaço de estrutura do novo estádio do Palmeiras, atletas de
mais de um clube de futebol envolvidos em possível contrabando de carros,
doping de atletas de diversas modalidades (Jobson e Carlos Alberto, jogadores
de Botafogo e Vasco respectivamente, Cesar Cielo da natação, Maurren Maggi do
atletismo, entre outros…), a tragédia na Bolívia envolvendo os torcedores do
Corinthians, casos de racismo em campeonatos estaduais, a saída ríspida de
Ricardinho da seleção brasileira de vôlei masculino. Poucos exemplos e o leitor
certamente deve ter se lembrado de outros tantos não citados acima.
O
mundo atualmente é fundamentado na comunicação. O que antes era restrito, hoje
é exposto quase que instantaneamente a toda sociedade e a quem a compõe que,
por sua vez, carece de sabedoria para administrar seus problemas e, consequentemente,
sua reputação.
No mundo ideal, a crise não acontece. Mas estamos longe de viver
o mundo ideal. Se as crises aparecem em empresas multinacionais, com modelos de
governança e controles de risco altamente desenvolvidos, como não apareceriam
no esporte brasileiro atual, ainda pouco profissionalizado?
A
competência na gestão diminui o risco de crises, mas não o elimina. A
incompetência na gestão não significa que haverá crise, mas a propicia. O fato
de termos uma comunicação esportiva ainda incipiente faz com que situações
aparentemente inofensivas se transformem em incubadoras de crises. Que o diga a
inabilidade de Wagner Ribeiro, empresário do jogador Neymar, do Santos, que
declarou pelo Twitter em 2012, quando Cesar Cielo ganhou o prêmio Jovens Lideranças
disputado justamente com o craque santista: “Infelizmente ganhou o doping.
Neymar é uma jovem Liderança Mundial. Mas perdeu o prêmio para Cielo”,
remetendo ao caso de doping vivido meses antes pelo nadador. Situação sob
controle em um instante, transformada em outra fora de controle justamente por
quem deveria viabilizar a melhor carreira para Neymar. A comunicação eficaz é
parte da gestão qualificada e precisa ser constante, mesmo quando ainda não há
crise, justamente para não gerá-la.
A
habilidade em gerir uma crise pressupõe, inclusive, ser fonte de informações
pra quem a busca. Antes ser o clube ou o atleta a fonte da informação, a tentar
limitar a imprensa, e se transformar no alvo das informações que vem de outra
fonte.
Há
ainda um aspecto fundamental para o esporte que não é encontrado em outros
mercados: a paixão. Um investidor tradicional analisa balanços e metas de uma
empresa para decidir se nela investe ou não. É uma analise técnica e
minimalista, que não ignora detalhe algum. Um torcedor de um clube, por
exemplo, não analisa o desempenho da equipe no último ano como parte de sua
decisão sobre para quem torcerá na temporada seguinte. Pelo contrário, chega a
ter o elo com o clube ampliado quando resultados ruins aparecem. Além disso,
ignora o quanto é negligenciado em questões elementares - ou o que
explica estádios sem a menor condição de conforto e higiene continuarem
recebendo milhares de pessoas semanalmente, se não a paixão? Ainda assim,
continua comprando ingressos e uniformes (para citar o básico) e se mantém
como importante fonte de renda para o clube.
O
fato é que o esporte não está alheio a crises que ultrapassam questões
técnicas. E quando elas acontecem, a comunicação dos clubes ou dos atletas não
pode continuar contando com esse encantamento dos torcedores. Porque a paixão
perdoa a ausência de capacidade técnica e pode até minimizar o desconforto, mas
não ignora o descaso, a ignorância, a violência ou, em casos mais extremos, a
morte. O encantamento e a paixão iludem tecnicamente, mas não dá aos clubes ou
atletas a faculdade de errarem sem arcar com as consequências ou, minimamente,
se desculparem. E pedir desculpas, quando necessárias, pode ser um dos
caminhos… Mas tem muitos outros.
Se
esse post falou sobre a necessidade da gestão de crises no esporte, o próximo
trará hipóteses de como colocá-la em prática, além de outros caminhos além do
pedido de desculpas. E claro, traremos exemplos bem sucedidos de crises
geridas. Até!
Fonte:
Vinicius Lordello – Esporte Executivo | Época
Bacana esse texto!
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