A
Olympikus se despede do Flamengo nesta terça-feira. A relação começou em 31 de
maio de 2008, quando, após meses de rumores, o clube confirmou que deixaria a
Nike, maior fabricante de materiais esportivos do mundo, para fechar com a
marca brasileira. E termina em 30 de abril de 2013, quando abre espaço para a
alemã Adidas. No fim, a Olympikus conseguiu o que poucas fornecedoras conseguem
no futebol brasileiro: visibilidade, prestígio e, muito mais raro, lucro.
A
última ação realizada pela Olympikus surpreendeu – a empresa fez uma
camisa do Flamengo de kevlar e nomax, materiais usados para a confecção de
coletes à prova de balas, e a fez enfrentar impacto de 200 quilos, baixíssima
temperatura, altíssima temperatura, enfim, testes para mostrar que a relação da
marca com o clube resiste a tudo. Até ao fim do contrato. Mas as ideias bem
sucedidas da empresa para se aproximar do flamenguista datam de bem antes.
Em
maio de 2008, a Vulcabras/Azaleia investiu pesado para tirar a Nike do
Flamengo. Foram R$ 10 milhões pagos em luvas, mais um contrato que envolvia R$
5 milhões de patrocínio, R$ 8 milhões de garantia mínima, um valor mínimo
referente aos royalties que o clube receberia da venda de uniformes, e 106 mil
peças anuais, uma quantidade suficiente para vestir todas as modalidades e
todos os funcionários do clube. Três vezes mais do que pagava a Nike.
Mas
a fabricante americana entrou na Justiça, alegou que o contrato que tinha,
válido até junho de 2009, teria de ser respeitado e ganhou. A Olympikus teve de
esperar até julho de 2009, um ano depois de anunciar que tinha fechado com o
Flamengo, para assumir o fornecimento de materiais. Neste meio tempo, inovou.
Impedida de colocar sua marca por questões jurídicas, inseriu três pontos de
interrogação no espaço da camisa que receberia o logotipo.
De
julho a dezembro de 2009, a Olympikus faturou muito. Empurrada pelo título
nacional conquistado pelo Flamengo, o sexto, e pelo sucesso do atacante Adriano
naquele segundo semestre, a marca vendeu 1,2 milhão de camisas rubro-negras em
seis meses. O lucro da Vulcabras/Azaleia com o Flamengo chegou a R$ 9,6 milhões
naquele ano, segundo revelou ao NEGÓCIOS FC um executivo que deixou a
companhia no ano passado. Desta quantia, já foram descontados os custos, como o
patrocínio e a garantia mínima.
No
ano seguinte, em 2010, os resultados financeiros despencaram junto com o
rendimento do time em campo. Mas, pior do que a falta de vitórias no Estadual,
na Libertadores e no Brasileiro, quem mais prejudicou as vendas da Olympikus
naquele ano foi o goleiro Bruno, preso e acusado de estar envolvido no
desaparecimento da namorada, Eliza Samudio. Os maus resultados e a polêmica
fizeram com que a Vulcabras/Azaleia tivesse um prejuízo de R$ 2,3 milhões com o
Flamengo.
Em
2011, o Flamengo contratou Thiago Neves, Ronaldinho Gaúcho e ganhou o
Campeonato Carioca. Foi mal na Copa do Brasil e classificou-se para a Libertadores
no Brasileiro. A fabricante voltou a lucrar, desta vez R$ 2,9 milhões. Mas o
surgimento da primeira notícia de que a Adidas estava disposta a despejar
dinheiro no Flamengo para tirar a Olympikus, no fim daquele ano, uma surpresa
para a fornecedora, derrubaria as vendas de novo.
No
ano passado, 2012, os rumores causados pelas negociações entre Patrícia Amorim,
então presidente flamenguista, e Carlos Peixoto, ex-dirigente do time que
intermediou a aproximação com a Adidas, fizeram com que os torcedores deixassem
de comprar camisas do clube. Afinal, não comprariam uma peça que poderia sair
de linha em breve. A Olympikus sentiu o golpe. Até o fim do ano, a marca
encaminhava para um prejuízo de cerca de R$ 3,5 milhões, ainda segundo este
executivo que prefere não ser identificado.
Com
as finanças em risco e os rumores de que a Adidas teria sucesso cada vez mais
fortes, a Olympikus fechou a torneira. Parou de pagar os royalties ao Flamengo
em setembro do ano passado. Por mês, eram quase R$ 800 mil que o clube deixou
de receber. Depois de várias rodadas de negociação, a fabricante brasileira
concordou em acabar com a parceria antes do término previsto por R$ 10
milhões – R$ 7 milhões referentes ao dinheiro que tinha investido para a
construção de um museu e R$ 3 milhões como compensação pelo rompimento do
contrato.
Com
o passar dos anos, o contrato foi reajustado. Em 2012, eram R$ 6,2 milhões pagos
como patrocínio e R$ 9,8 milhões como garantia mínima, relativa aos royalties
sobre as vendas. A Adidas elevou bastante este valor para substituir a marca
brasileira. Os alemães pagarão, como patrocínio, R$ 12,5 milhões nos primeiros
cinco anos e R$ 17,5 milhões nos últimos cinco anos do contrato de uma década.
A garantia mínima será de R$ 8 milhões anuais.
No fim
das contas, a Vulcabras/Azaleia deixou o Flamengo com a conta no azul e o
prestígio gerado por ações bem sucedidas – além da “camisa indestrutível”,
ainda houve a retransmissão do Mundial conquistado pelos cariocas em 1981,
feita pela Rádio Globo em parceria com a Olympikus e a agência DM9Sul.
Especialmente no futebol brasileiro, acredite, sair de um grande clube com
saldo positivo é para poucos.
Fonte: POR RODRIGO CAPELO
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