O que temos visto nos últimos meses e
mais acentuadamente nas últimas semanas e dias, são declarações a respeito dos
valores dos patrocínios de fornecedores dos três clubes que tiveram seus
contratos recentemente assinados. São também, e não por coincidência, os clubes
das três maiores torcidas brasileiras: o Flamengo, que trocou a nacional
Olympikus (Vulcabrás) pela multinacional Adidas; o Corinthians, que renovou com
a multinacional Nike; e o São Paulo, que trocou a Reebok – marca multinacional,
mas com gestão local da Vulcabrás – pela Penalty, da nacional Cambuci.
Os valores anunciados para o acordo
Flamengo/Adidas giraram entre 35 milhões, inicialmente, e depois 38 milhões de
reais por ano, durante dez anos.
Para o Corinthians e o novo acordo com
a Nike, circulou a informação de que o acordo gira em torno de 30 milhões por
ano, pelo período de 10 anos, dois dos quais ainda faziam parte do contrato que
foi substituído.
Por último, o São Paulo anunciou
oficialmente o acordo com a Penalty, e o valor comentado a partir de
informações obtidas no clube, e posteriormente confirmado em nota no site
oficial, é de pouco mais de 35 milhões de reais por ano, até 2015.
Naturalmente, nos dois primeiros casos
há cláusulas prevendo reajustes dos valores. No caso do acordo São
Paulo/Penalty, talvez em função de sua curta duração (apenas três anos) não há
cláusula de correção (ou não foi informada).
Sobre o acordo do Flamengo com a
Adidas, o portal GloboEsporte publicou algumas matérias, com as informações
básicas sobre o contrato, a partir de informações obtidas diretamente do
próprio documento. No caso do acordo do Corinthians com a Nike, as informações
que virão a seguir nesse post foram obtidas por esse blogueiro junto a uma
fonte do clube. No caso do São Paulo, pelo menos até o presente momento não
disponho de informações mais completas a respeito do contrato, apesar de várias
tentativas para obtê-las junto ao clube, portanto trabalhei com a informação
oficial do São Paulo sobre o valor – “o contrato é válido até 2015 e garante ao
Tricolor mais de R$ 35 milhões por ano.”
Detalhamento de valores
A tabela abaixo detalha os principais
pontos financeiros dos dois contratos sobre os quais disponho de informações,
como já foi dito acima. Flamengo e Corinthians receberam luvas – 38 milhões no
caso do Flamengo e 30 milhões no caso do Corinthians. Esses valores já foram ou
estão sendo pagos, entrando nos caixas dos clubes no exercício 2012 ou 2013.
Para efeito de valor dos contratos anualizados, elas foram divididas por 10
anos no caso rubronegro e por 8 anos no caso corintiano, por se tratar de uma
extensão do contrato então em vigor, que tinha, ainda, mais dois anos de
vigência e que já haviam sido contemplados por luvas.
Como mostra a tabela, o maior contrato
é o da Adidas com o Flamengo. Para isso, consideramos a somatória de valores
garantidos, com e sem inclusão das luvas, que resultam em 4,35 e 4,3 milhões de
reais a mais, respectivamente, em relação ao contrato Nike/Corinthians. No caso
da entrada de dinheiro líquido em caixa, a posição muda e o maior valor é o que
a Nike paga ao Corinthians – 1,5 milhão de reais a mais.
Ainda falando em luvas, para assinar
com a Adidas o Flamengo precisou pagar à Olympikus um total de 10,4 milhões de
reais, parte em dinheiro – R$ 2.474.745,48 – e parte abrindo mão dos pagamentos
devidos ao período setembro/12 a abril/13. Com isso, o patrocínio Adidas terá
início efetivo em 1º de maio, mas o novo vice-presidente de marketing, Luis
Eduardo Baptista, conseguiu negociar o pagamento das luvas antes da entrada em
vigor do novo contrato (a segunda parcela, no valor de 25 milhões de reais,
será paga até 15 de fevereiro). Ao analisar o negócio como um todo, esse custo
deveria ser debitado na conta “novo patrocínio”, o que reduziria seus valores
reais, mantendo os valores nominais. Nesse post, até para evitar interpretações
incorretas, optei por manter os valores nominais.
Em termos de entradas no caixa, que é
o fator mais importante para os clubes, considerei os pagamentos das cotas de
patrocínio propriamente dito e os royalties garantidos, independentemente de
quantas peças forem vendidas. São esses os valores com os quais os clubes podem
contar e fazer previsões, além de adiantamentos.
Outros pagamentos são incertos, pois
dependerão de objetivos que venham a ser alcançados pelos clubes. Se um time
conquistar o Brasileiro, haverá um bônus. Estadual, outro. Libertadores,
Mundial, copas do Brasil e Sul Americana também, em todos os casos. Se o número
de peças vendidas de um clube exceder uma meta pré-fixada, o percentual por
unidade destinado ao mesmo aumenta. As metas, entretanto, não são fáceis de
serem ultrapassadas, ainda mais de forma significativa, de forma a gerar mais
recursos de bom valor. É mais provável que isso ocorra justamente nos momentos
em que o time estiver voando em campo, ganhando competições e empolgando os
torcedores, quando um aumento nessas receitas passa até meio despercebido.
Ganhando, tudo é festa.
Aqui há uma verdade inegável,
demonstrada pelos números no decorrer de muitos anos: quando o time do coração
vai bem, a torcida comparece, seja nos estádios, seja nas lojas. No caso do PPV
temos visto uma manutenção, com oscilações pequenas, independentemente da
campanha do time. Porque a compra é feita antes e no início da temporada, e o
torcedor se alimenta de um misto-quente, onde o recheio é uma fatia de
realidade e outra de esperança, tudo temperado pelo molho quente do sonho.
As verbas de marketing da Adidas para
o Flamengo e da Nike para o Corinthians poderão gerar novos recursos, bem como
despesas . No caso rubronegro, por exemplo, parte dela deverá bancar as
despesas do time para um jogo amistoso por ano, definido pela fornecedora e
especificado no contrato, que ficará com a receita de bilheteria e outras de
ações localizadas. Por outro lado, o clube ficará com os direitos de
transmissão da partida, que dependendo do adversário poderão gerar um dinheiro
razoável. Outra parte dessa verba será usada para a produção de peças de
comunicação que serão colocadas nos campos de jogos e locais de treinamento,
mas sempre sobra alguma coisa.
Infelizmente, apesar de várias
tentativas como disse, não consegui o mesmo nível de informações do São Paulo
em relação ao acordo com a Cambuci S.A., detentora da marca Penalty. As únicas
informações que circularam no mercado (até o momento em que concluía esse
texto) apontam um valor de materiais a serem fornecidos ao clube no total de 13
milhões de reais, um número bastante alto para essa modalidade, e 1,5 milhão de
reais para o time de futsal do clube, também incluído no valor total divulgado
pelo clube.
As lojas dos clubes e para os clubes
Esse é um ponto importante: lojas. A
distribuição das peças de vestuário para torcedores e público em geral é ainda
muito deficiente, bastante problemática, nem tanto com relação às camisas
oficiais, que são os itens com maior demanda, mas principalmente com as linhas
de vestuário e outros produtos. Nesse sentido, as lojas próprias ou exclusivas
têm hoje grande importância estratégica para os clubes. Ou deveriam ter.
A Reebok montou uma rede de lojas SAO,
mas com o fim do patrocínio essas lojas fecham ou deixam de ser exclusivas da
marca São Paulo. É uma perda razoável, pois uma parcela dos consumidores perde
sua referência. Comenta-se que a Penalty montará lojas com o mesmo conceito,
mas é uma tarefa que demanda tempo e custos a cada ano maiores.
O Flamengo tinha um projeto que, à
época, considerei simples e genial: os Quiosques. Seriam unidades de custo
relativamente baixo e com grande potencial para atingir a grande massa
torcedora, fora ou dentro de shoppings em todo o país. Foi abandonado na gestão
Amorim, pelas informações que tenho. A Vulcabrás tinha um projeto para criar
lojas Olympikus/Flamengo, mas a falta de firmeza do clube no combate a empresas
e lojas com produtos não oficiais acabou desestimulando a empresa a investir.
De seu lado, e chovam pedras sobre
esse escriba, a rede de lojas “Poderoso Timão” não é da Nike. É do Corinthians,
na forma de associação com empresas terceirizadas e virou um tipo de franquia.
O clube poderia trocar a Nike pela Adidas e não teria problemas com sua
distribuição, mantendo uma rede já conhecida do consumidor e pronta para dar
saída a novos produtos, agregando receitas.
A importância das lojas próprias está
também em dar ao clube maior poder de barganha e permitir-lhe antecipar-se ao
mercado e buscar, ele mesmo, fornecedores para produtos únicos, específicos.
“Você mesmo cria e produz”
(terceirizando, claro), como disse-me em conversa na tarde de ontem um
profissional da área, que já atuou por alguns anos à frente do marketing de um
dos grandes clubes brasileiros. “Ao fazer isso, o clube não fica parado,
esperando que fornecedores ofereçam produtos com seus próprios preços. Pelo
contrário, o próprio clube toma a dianteira, seleciona o fornecedor de acordo
com o que julga mais necessário, importante e conveniente. Com tudo isso, a
loja se torna um ativo valioso do clube.”
Ordens de grandeza próximas
Os três novos contratos estão em
ordens de grandeza muito próximas, cada qual com seus detalhes. Como já foi
apontado em diversas pesquisas e posts nesse OCE, o maior número de torcedores
do Flamengo é contrabalançado por uma maior concentração da torcida corintiana
em áreas com maior poder potencial de consumo. A presença do São Paulo junto
aos dois clubes com torcidas maiores é explicada por dois motivos básicos
(olhando de fora e interpretando o quadro): concentração da torcida em regiões
com maior IPC (Índice Potencial de Consumo) e um forte investimento da Cambuci
S.A. em sua marca líder, a Penalty, e dessa no São Paulo, como seu carro-chefe,
já como parte do reposicionamento da marca no mercado brasileiro e visando
também três objetivos: mercado internacional, Copa 2014 e Jogos Olímpicos do
Rio.
Ao fim e ao cabo, como disse um dos
profissionais com quem conversei, teremos uma noção real dos valores envolvidos
nos novos patrocínios e das metas alcançadas ou não em maio de 2014, depois que
os balanços referentes ao ano em curso forem publicados.
Fonte: Olhar Crônico Esportivo - GloboEsporte.com
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