Travada por falta de dinheiro, nova
diretoria rubro-negra não consegue reforços de peso e precisa contornar dívidas
com os atletas.
Dívidas milionárias, falta de dinheiro
em caixa para fazer grandes contratações, atraso nos salários e outros
pagamentos, penhoras que mordem dinheiro novo que entra no cofre do Flamengo, e
uma bola de neve de complicações financeiras. A nova gestão se assustou com os
problemas e somente nos próximos meses vai tomar conhecimento da real condição
do clube. A ideia - discutida já em dezembro - foi colocada em prática e uma
auditoria já foi contratada para abrir a caixa-preta. E vermelha. O novo
vice-presidente de finanças, Rodrigo Tostes, só deverá se pronunciar sobre a
complicada situação depois de ter em mãos um parecer da análise minuciosa e
independente que será realizada. Mas alguns casos chamam atenção e causaram
espanto à diretoria que assumiu o clube.
Já se sabe que a Gávea tem cerca de
700 funcionários, número considerado muito elevado pela demanda da sede.
Através da auditoria será possível destrinchar o quadro pessoal, funções, entre
outros detalhes da folha salarial do Rubro-Negro. Demissões já começaram a ser
realizadas e alguns pontos de interrogação vieram à tona, como um caso ligado à
área de comunicação. Um dos funcionários recebia cerca de R$ 10 mil pagos não
pelo clube, mas sim pela Braziline, empresa que tem contrato com o Flamengo
para a produção de camisas licenciadas usando o símbolo do Rubro-Negro. Segundo
o GLOBOESPORTE.COM apurou, esse valor já era pago na mesma condição a outro
funcionário, que também exercia essa função na gestão Marcio Braga/Delair
Dumbrosck.
O departamento financeiro do clube vai
passar por reformulação. Pelo menos dois funcionários ligados ao ex-vice de
finanças Michel Levy serão demitidos
- Está para ser anunciada a auditoria,
mas estão sendo definidos os últimos detalhes do escopo e do tamanho do
trabalho que será feito. É muito mais um diagnóstico para saber a gravidade da
doença e tratá-la, não é um ato de autopromoção para podermos dizer o que
fizemos depois - disse o novo vice de administração e tecnologia da informação,
Claudio Pracownik, que participa diretamente da contratação da empresa
responsável pela auditoria.
Alguns funcionários que foram
demitidos no fim da gestão Patricia Amorim tiveram pouco tempo para comemorar
os cheques recebidos no momento do desligamento, pois eles não tinham fundos.
Cheques emitidos para pagamentos diversos na última semana de dezembro, alguns
deles de alto valor, também foram devolvidos na quarta-feira, primeiro dia útil
do ano. O departamento financeiro vai passar por reformulação, e pelo menos
dois funcionários que trabalhavam com Michel Levy, ex-vice de finanças do
clube, serão demitidos nos próximos dias. Em meio ao momento complicado, o
clube esperava um depósito de antecipação de direitos para o último dia 31, mas
ele não aconteceu.
Mesmo ainda sem ter a exata noção da
situação financeira, a nova diretoria trabalha com estimativas bastante
pessimistas, com um cenário descrito como o “pior dos mundos”.
Com os adiantamentos e as luvas do
contrato de transmissão de jogos feitos por Patricia Amorim, o Flamengo já
comprometeu mais de 90% dos seus recursos dessa natureza, restando cerca de R$
8 milhões dessa verba para 2013. Nesta sexta-feira, o Conselho Fiscal vai
emitir um parecer sobre as contas de 2011 ao Conselho Deliberativo.
- Só recomendaremos a aprovação
mediante a reclassificação de algumas contas. Será preciso ajustar o resultado
do exercício de 2011 e dar baixa nas despesas como, por exemplo, adiantamentos.
O Flamengo adiantou verbas para alguns departamentos, chegaram os comprovantes,
e agora tem que reduzir o saldo dos adiantamentos do saldo de despesas. Feito
isso, a gente recomenda a aprovação. No balanço de 2011, o valor de
adiantamentos ficou fora do padrão histórico do Flamengo, que é de R$ 2 mihões,
e chegou a R$ 7 milhões – disse o presidente do Conselho Fiscal, Leonardo
Ribeiro.
Está para ser anunciada a auditoria,
mas estão sendo definidos os últimos detalhes do escopo e do tamanho do
trabalho que será feito. É muito mais um diagnóstico para saber a gravidade da
doença e tratá-la, não é um ato de autopromoção para podermos dizer o que
fizemos depois"
Claudio Pracownik, vice de
administração e tecnologia da informação do Flamengo
O mandato de Leonardo Ribeiro termina
em 31 de março. Até lá, ele diz que vai conduzir a auditoria do conselho e quer
receber detalhes da apuração encomendada pela nova diretoria.
- Eles contrataram uma empresa para
fazer o levantamento à parte, mas já existe uma auditoria interna. As contas de
2012 ainda estão sob nossos cuidados, pelo menos até o fim do meu mandato. O
primeiro ofício do Conselho Fiscal direcionado para a nova administração vai
ser o contrato com essa empresa.
No exercício de 2010, as contas foram
aprovadas com ressalvas. Os números de 2012 ainda estão em aberto, mas houve
problemas no primeiro semestre, quando a diretoria não emitiu nenhum dos
balancetes trimestrais e teve de ser feito, por ordem do Conselho Fiscal, um
balanço semestral extraordinário para que os conselheiros pudessem verificar as
contas.
Os salários dos jogadores estão
atrasados. E isso foi tema do bate-papo entre a nova diretoria e o elenco logo
no primeiro dia de contato, na quinta-feira.
- São pessoas novas, sérias, que estão
entrando no Flamengo, mas já chegaram com esse trabalho de resolver (atraso de
salário). Mas são capacitadas para isso. Jogadores têm que se preocupar dentro
de campo, deixar que essas pessoas resolvam essas pendências. Temos de dar esse
voto de confiança, acredito que eles vão resolver. É acreditar e esperar que
possam solucionar essa pendência do ano passado – disse o lateral-direito Léo
Moura.
Mudanças no marketing
O departamento de marketing, um dos
pontos que a nova direção quer trabalhar intensamente depois do insucesso na
gestão Patricia Amorim, também sofrerá mudanças. Luiz Eduardo Baptista, novo
responsável pela pasta e homem-forte na diretoria, está em viagem e na semana
que vem providenciará as mudanças.
Com a chegada de Bap, o clube também
espera fechar três patrocinadores para a camisa. No planejamento, haverá três
cotas disponíveis a R$ 15 milhões. Os patrocinadores passarão por um
revezamento quadrimestral de exposição da marca em três locais diferentes do
uniforme: ombro, peito e manga. A sugestão inicial do Flamengo é que as
empresas assinem contratos por três anos, totalizando R$ 45 milhões por cada
uma..
Vice de futebol justifica falta de
reforços: penhoras
O torcedor do Flamengo não poderá
festejar a chegada de reforços de impacto durante o Campeonato Carioca. O vice
de futebol Wallim Vasconcellos avisou que o clube só poderá ter nomes de peso a
partir da Copa do Brasil e do Brasileirão. Segundo ele, “três ou quatro
atletas” chegarão durante o primeiro turno do Estadual, mas apenas por
empréstimo. O dirigente descartou entrar em leilões e anunciou que o
Rubro-Negro está fora das tratativas para contratar Nenê, Vargas, Conca e Jorge
Henrique, últimas sondagens do Fla. Wallim elegeu o maior vilão do Flamengo no
momento: as penhoras. Sendo assim, o plano da nova diretoria é enxugar as
despesas e canalizar o investimento em um primeiro momento para o futebol.
Nos últimos meses, o Fla teve
R$ 27 milhões penhorados pela Justiça
por causa de execuções de antigas dívidas com a União
- Esse problema da penhora é o maior
que temos hoje. Estamos trabalhando com os órgãos públicos, como Ministério da
Fazenda, para tentar fazer acordos para as nossas dívidas. Vários acordos foram
feitos, mas não foram cumpridos. Vamos reverter isso, o presidente está
empenhado com o (departamento) financeiro para saber o tamanho da dívida,
renegociar. Vamos ter dinheiro em caixa com patrocínio da Adidas, com
patrocinadores, ações de marketing. Os jogadores não têm culpa. Nós,
teoricamente, não temos culpa, mas vamos ter de matar essa bola no peito.
Pedimos um pouco de paciência para eles. O que falamos é que agora começou um
novo Flamengo e não teremos atraso de salários. Vamos resolver, e acredito que
tenham entendido. O que pedimos é o esforço deles, isso vai nos ajudar a trazer
receita para o clube – explicou o vice de futebol.
O Flamengo teve R$ 27 milhões
penhorados pela Justiça nos últimos meses por conta de execuções de antigas
dívidas com a União, como recolhimento de imposto de renda e contribuição
previdenciária do período 2007-08-09. Em recesso, a Justiça volta a funcionar
na próxima segunda-feira.
Fonte: Por Janir Júnior e Richard
Souza Rio de Janeiro- GloboEsporte.com