domingo, 16 de setembro de 2012

Os Bilionários Clubes Russos


Em um contexto de vacas magras para os poderosos Real Madrid e Barcelona (e com o Manchester City discreto), coube ao pouco conhecido Zenit surpreender o mundo no fechamento da janela do mercado europeu: sem pudor, o clube gastou R$ 270 milhões para levar Hulk e o belga Witsel, jogadores de segundo escalão no continente. Só perdeu em investimentos para Chelsea e Paris Saint-Germain: resultado da injeção milionária da gigantesca Gazprom, petroquímica russa que, assim como suas irmãs estatais, financia um império esportivo que despreza a crise e ameaça o reinado de países (endividados) como a Espanha e a Itália.

O futebol russo virou um oásis gelado. Após o colapso da União Soviética, em 1991, muitos empresários lucraram fortunas, e o governo local montou empresas poderosas. No começo da década passada, o país voltou os olhos ao futebol — e a UEFA abriu os olhos para os bilionários: a entidade já investigou acusações de lavagem de dinheiro, manipulação de resultados e envolvimento de grupos mafiosos na administração dos clubes. Um caso simbólico é a chegada do grupo MSI ao Corinthians, em 2005: o empresário Kia Joorabchian, agente de astros como Tévez, é parceiro do oligarca Boris Berezovsky, que precisou fugir da Rússia em uma briga política com o presidente Vladimir Putin.

— O magnata nem sempre contrata o melhor jogador, o mais rentável. Clubes como o Barcelona e o Manchester United possuem elencos melhores que City, PSG e Zenit porque investem com a racionalidade de um negócio. O Zenit, se viesse ao Brasil, conseguiria vários jogadores melhores que o Hulk pagando muito menos — analisa Amir Somoggi, especialista em mercado do futebol.

Membro do Bric (grupo econômico de países emergentes) com o Brasil, a Rússia hoje só perde para os Estados Unidos em número de bilionários — e possui um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) inferior ao do Panamá, por exemplo. Mas investiu quase o dobro do futebol espanhol em contratações no último mercado de verão. E ainda sediará a Copa do Mundo de 2018 — cujas obras estão em situação mais avançada que no Brasil.

Terra do artilheiro Shevchenko, ídolo do Milan, a Ucrânia aproveita a maré financeira da vizinha (e inimiga histórica) Rússia e, com a mesma estratégia de apoio estatal e bilionário, virou um eldorado para os brasileiros — por enquanto, com o domínio de dois clubes: o Dínamo de Kiev e o Shakhtar Donetsk, que planeja contratar Dedé e ofereceu R$ 26 milhões pelo jogador.

O Shakhtar é controlado pelo bilionário Rinat Akhmetov, dono de uma fortuna de R$ 32 bilhões, segundo a revista "Forbes". Apaixonado por futebol, vive de olho no Brasil: atualmente, há nove atletas do país no elenco, que já contou com nomes como Elano e Jadson. O Dinamo de Kiev, por outro lado, detém mais cinco brasileiros, e na última janela investiu cerca de R$ 100 milhões em reforços — a Ucrânia, com a Polônia, sediou a Eurocopa em junho e sofreu com atrasos na entrega das obras e problemas financeiros.

Investigação
Da mesma forma, as equipes do país — e seus donos — são investigados pelos altos gastos. Envolvido em política, Akhmetov — dono de uma empresa de investimentos — é acusado pela imprensa ucraniana de fazer parte do crime organizado no país, uma polêmica eterna na Rússia. Em 2008, um juiz espanhol encaminhou a promotores alemães a denúncia de que Gennady Petrov, integrante da máfia local "Tambov Gang", em São Petersburgo, manipulou o resultado de um jogo entre o Zenit e o Bayern de Munique, pela Liga Europa. O jogo acabou em 4 a 0 para os russos.

Na época, a Espanha prendeu Petrov e outros 60 russos no país — por fazer parte da máfia. Entre os quais, Vitaly Izguilov, flagrado em grampo negociando a venda de um atleta do Zenit. A Justiça espanhola investigou uma aliança entre os mafiosos e o governo russo em contrabando e lavagem de dinheiro.

— Quando estive na Ucrânia, ao sentar com o presidente de um clube, ele colocou logo uma arma em cima da mesa. Alguns negociam assim, outros são educados. Lá, é assim — revela um empresário brasileiro.

Investidor pioneiro
Nos últimos dez anos, nenhum homem gastou com futebol como o bilionário russo Roman Abramovich, que possui quase R$ 40 bilhões e figura atualmente como o 68º mais rico do mundo.

Desde 2003, quando adquiriu o Chelsea, Abramovich investiu R$ 2,7 bilhões no clube, que vinha de longo jejum no futebol inglês. E, desde a chegada do magnata, venceu a Premier League em 2005, 2006 e 2010 e conquistou a Liga dos Campeões em maio passado.
Na última janela, Abramovich pagou R$ 90 milhões pelo jovem brasileiro Oscar, que atua no clube com Ramires e David Luiz. Só com o espanhol Fernando Torres, em 2011, o russo gastou R$ 190 milhões — fora os mimos que acumula, como iates, mansões, jatos particulares e carros blindados de luxo.

Em 2005, o nome de Abramovich ganhou notoriedade no Brasil pelo envolvimento com o oligarca Boris Berezovsky, ligado ao grupo MSI, que investiu no Corinthians. Os dois, depois, viraram rivais em uma disputa judicial bilionária envolvendo a empresa Sibneft, incorporada pela Gazprom (dona do Zenit). Amigo pessoal do presidente Vladimir Putin, o empresário já investiu maciçamente no CSKA Moscou.

Fonte: Lucas Calil -  Jornal Extra


 

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