quarta-feira, 22 de maio de 2013

E se Flamengo e Corinthians fossem o Benfica?


A Ambev, empresa que mais e melhor investe no futebol brasileiro, às vezes peca pela euforia. No caso da Copa, exagera quando decide, com campanha publicitária na TV e tudo mais, que o evento será um grande sucesso. “Imagina a festa!”. No “Movimento por um Futebol Melhor”, exagera quando sugere que brasileiros irão tirar Messi do Barcelona porque terão mais sócios-torcedores.

No encontro entre executivos e jornalistas feito em São Paulo nesta terça-feira (21/05), a Ambev anunciou a ampliação do projeto – em resumo, sócios ganham descontos em produtos, clubes ganham por ter mais associados, e empresas ganham em vendas e imagem por apoiar o futebol.
A cervejaria, em vários momentos da coletiva de imprensa, abusou do velho e conhecido “e se?”.
A Ambev propõe pensar em dois cenários. O primeiro: e se todos os times tivessem o mesmo sucesso que o Internacional? E se, em uma hipótese ainda mais otimista, todos fossem o Benfica?
O Benfica tem, proporcionalmente, o maior quadro social do mundo. De toda a torcida, o time português conseguiu converter 4% em sócios-torcedores. No Brasil, quem tem o melhor aproveitamento neste aspecto é o Internacional de Porto Alegre, com 1,73% do total.
Começa aí um exercício de imaginação.
O Flamengo, dono da maior torcida do Brasil, tem um dos índices mais baixos. Só 0,06% é sócio. O Corinthians tem 0,20%. Todos os demais principais clubes do Brasil não têm mais do que 1%.
Nas contas da Ambev, o Flamengo poderia chegar a um faturamento de R$ 764 milhões se conseguisse o mesmo percentual que o Benfica. Ou R$ 330 milhões, se alcançasse o Internacional.
A matemática está correta, mas a projeção é pouquíssimo realista. Não que seja um absurdo pensar que a gestão dos clubes brasileiros possa ser tão ou mais eficiente que a do Benfica. Não é.
Mas sonhar com R$ 764 milhões apenas com sócios tem tanto efeito prático quanto planejar o que fazer com um prêmio de US$ 590,5 milhões,  aquele que o americano ganhou na loteria. Nenhum.

Não há, no mundo, equipes de primeira linha que ganhem mais com sócios do que com TV e patrocínios, por exemplo. Mesmo o Benfica, referência no assunto para a Ambev, não tira tanto dinheiro do quadro social como tira de emissoras e empresas. Em 2011/2012, foram € 17 milhões em publicidade e patrocínios, € 8,4 milhões com televisão e € 8,3 milhões de associados.
No Brasil, em 2012, o Internacional ganhou R$ 89 milhões com direitos de transmissão, R$ 25 milhões com patrocínios e R$ 45 milhões com sócios. Para que os gaúchos cheguem ao percentual do Benfica, 4%, eles teriam de dobrar a receita que têm com o quadro social.
Ainda em 2011, motivado pelo bom desempenho na área, o marketing do Inter lançou campanha para chegar aos 200 mil associados. “Se cada sócio trouxer mais um sócio”, dizia o clube, a meta seria batida. Como se vê no “torcedômetro” montado pela Ambev, a referência brasileira na área ainda precisa chegar aos 100 mil – por enquanto, são 82,9 mil.

Perguntei a Marcel Marcondes, diretor de negócios no esporte da cervejaria, se os números divulgados no encontro desta terça foram calculados mais para impressionar do que para confiar. “São factíveis”, respondeu. Mas o desejo da Ambev é bem mais realista: 1 milhão de sócios até o fim de 2013, na soma de todos os clubes participantes, e 3 milhões até 2015.
O mau de pensar em números tão extravagantes é que, ao tirar os pés do chão, perde-se um pouco do bom senso. Abre espaço para que apareçam comentários bobos sobre trazer Xavi, Iniesta e Messi, do Barcelona, para jogar no Brasil com o dinheiro que os clubes ganharão com associados. Coisa que o público adora.
Tão divertido – e tão ingênuo – quanto pensar em quantos sonhos realizados você teria, quantas pessoas você ajudaria, se ganhasse US$ 590,5 milhões na loteria americana. E se?

Fonte:  POR RODRIGO CAPELO | Época Négócios

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